SOU UM SER RASO
Em vez de sangue
é a tristeza pura
que correm em minhas veias
Áspera e dura
fere lá no fundo
na morada da alma
Pior do que morrer
é sentir o viver
escorrendo pelos dedos
No que um dia
foi um coração
existe um vale
uma depressão
que por falta de opção
bate compulsoriamente
na diástole do acaso
Sou tal qual
uma colcha de retalhos
de trapos velhos
jogados no chão
Minhas alegrias
estão espalhadas
entre cacos de rancor
amargura, ódio
e desilusão
Meus versos
são filhos bastardos
nascidos a fórceps
São criaturas teimosas
envolvidas na placenta do clichê
Tento ser profundo
mas no fundo
sou um ser raso