CAMINHO SEM FIM
Cai a Chuva
Chora a cara
Cansado eu conto
Um Conto cantado
Chega o cansaço
Cem anos contados
Cultos companheiros
Covardes canalhas
Castigam o corpo
Comem a carne
Culpam-me condenando
Corroem-me no cárcere
Chego a chorar
Um choro calado
Como cavalo
Comi o capim
Como criança
Cresci sem carinho
Caminhei cansado
Certo caminho
Carroças carregadas
Cruzava-se nas curvas
Carreavam corpos
Conduzidos às covas
É o fim do mundo
É o mundo sem fim
Cai a cara
Chora a chuva
Cantando cansado
Um conto eu conto
Cem anos cansados
Chegam contados
Cultos Canalhas
Covardes companheiros
Castigam a carne
Comem o corpo
Culpam-me no cárcere
Corroem-me condenando
Chego calado
A chorar um choro
Como capim
Comeram-me os cavalos
Como sem carinho
Cresceu esta criança?
Caminhei no Caminho
Certo e cansado
Carroças nas curvas
Cruzadas carregavam
Carreavam as covas
Conduzidas aos corpos
É a vida sem cansaço
É o cansaço da vida
É o fim do caminho
É o caminho sem fim.
Nova Serrana (MG), 31 de maio de 1982.