Afogada
Afogo-me em poesias
Eu que outrora bebia das fontes das palavras inesgotáveis
Hoje me embriago de verbos cujas ações não faço
Entorpecida de desejos não correspondidos
Ansiando a doçura das palavras nas páginas do livro certo
Meus poemas fracassados
São palavras tortas em linhas certas
Um tanto ao contrário de Deus
Mas afogo-me em poesias
Nas palavras de outros tantos,
Outros enquantos,
Outros instantes
O supra sumo dos dias estranhos
Em que a gente procura nos outros a mesma emoção folclórica que sente indefinível
Hora seca
Hora transborda
Hora árida
Hora inundação
Sou eu, retrato fiel da minha condição
Da contradição
Mas sou o que posso
Um pouco de tudo
Um muito de todo
De tudo aquilo que é capaz de se afogar em poesia
Afogo-me
Afogue-me