ODISSÉIA URBANA
Enquanto operários constroem o mundo,
ao lado de minha janela, numa paisagem urbana, beija-flores ensaiam um novo balé
por quanto borboletas despreocupadas se acoplam nas flores!
Então pergunto as abelhas porque o dia não veio para mim?
Pergunto às horas e quando ele virá.
Me respondem que são apenas operárias do tempo, que só o tempo saberá dize-lo.
O dia estava, na verdade escondido nas brumas, nas gargantas dos galos.
Assim, a noite seguia, estendida em minha alma, teimando em não desaparecer, porque na verdade, a realidade me assusta!
Por isso sigo boiando neste mar de mentiras, que é o meu mundo
Porque o homem, precisa das mentiras
Porque o mundo, afinal, tudo é feito de ilusões!
As palavras carregam as respostas
Mas as explicações não são fáceis de se descobrir
As palavras deveriam falar pela gente
Refletir o que pensamos
Mas acaba que a gente falando pelas palavras
E nada dizemos de profundo, ficando tudo fica sem sentido!
Eu observo desconcertado o desarranjo do mundo
Contudo sei, que tudo poderá mudar, de repente
Por mais inverossímil que seja, pelas palavras,
Este rio insalubre, contaminado, expressadas pelas ideias
As ideias mudam com a mudança da percepção
Que temos das coisas.
Por isso precisamos sempre estar mudando nossas percepções
Porém eu estou velho demais, para mudar as minhas
Assim apenas ando neste universo
Sem se importar com o que dizem as outras pessoas de mim
Ás vezes, paro para escutar o eco do silencio
Perceber o silencio é uma fresta que se abre
Por onde pode entrar uma retomada de consciência
Eu, contudo, não tenho tido paciência para ouvir o silencio
Embora sei que ela soa dentro de mim
Como o farfalhar das folhas mortas,
Em seu último cortejo
Sob a marcha fúnebre da brisa fria!