Do fim ao começo
De onde devemos começar? Do prólogo ao epílogo? Ou do epílogo ao prólogo? Quem é o magnânimo ser que impôs o fim no final? Quando na verdade não há fim, nem começo.
Pois se temos um fim, ele pode ser o fim do começo, ou o começo do fim. Se temos um começo, pode ser o começo do fim, ou o fim do começo.
Da mesma forma que a morte arquiteta nossa vida, forma nossa mente e projeta nossa vida, pois o que nos dá sentido da vida, não são seus prazeres, ou seus desejos, mas a certeza de que tudo morre, pois tudo tem seu fim, entretanto, assim como a cobra que morde o próprio rabo, nós somos eternos ciclos, eternas engrenagens, que mudam de tamanho e de dentes ao longo da margem do tempo.
Da harmônia ao caos, das tênues palavras de uma amante, às rechaças de um inimigo. Do ódio ao amor, como dois extremos podem ser tão semelhantes, direita e esquerda, luz e trevas, guerra e paz, morte e vida. Como pode existir um lado, se não existe seu oposto, como definir alguém triste, se não houvesse pessoas tristes. Como definiria raiva, sem haver calma.
Palavras e sentimentos, talvez sejam diametralmente opostas por quererem expressar diferentes coisas, o momento sólido e o momento intocável, as palavras ficam escritas e lá estão, enquanto sentimentos são varridos pelas brisas do tempo, mas as palavras são um depósito para se guardar sentimentos também, do que adianta um poeta sem emoção? Ele escreveria rimas ricas, ou até alexandrinas, se em suas obras só há palavras ocas e bem ornadas.
De verde para vermelho, o mundo continua dando voltas, o mundo segue sem parar em sua máquina cheia de engrenagens, cada pessoa é uma engrenagem e dona de sua escolha, o efeito borboleta, você gira seus dentes e moverá engrenagens que nem sequer conhece, se sua engrenagem se mexe diferente, ela prejudica outras e quebra outras, a tênue linha entre o 'ninguém se importa comigo' e o 'eu que comando o meu mundo'.
Sinceridade é uma virtude, mas do que adianta virtudes quando sua máscara é bem presa? Admito ser mau, mas admito ser bom? Opostos se atraem? Bondade nunca levou ninguém às mais altas alturas, mas o que acontece quando aos ingredientes misturamos maldade e bondade? Um imperador, dom Pedro II, um rei Felipe de Orange, um filósofo Maquiavel.
O que acontece quando se mistura ódio ao amor? Talvez surja razão? Não, surgirá um amaranhado de emoções secundárias que apenas trazem problemas, que tal se afastar e tomar uma bebida? Não, pois você a ama, que tal se aproximar e tentar sua sorte? Não, pois você a odeia. Harmônia e caos, tão pobres os pensamentos humanos que nos levam a loucura de forma inconstante, as incontáveis linhas de possibilidades que entrelaçam as escolhas minhas e suas.
O que nos resta outros autores? Ao fim desta história, ou poesia, chame como lhe bem querer, mas chegamos ao fim? Ou a mais um início? Onde as palavras aqui ditas, vão para sua vida, ou morrem encardidas em um livro, ou site em um site monótono, chegamos ao epílogo da estória, ou ao prólogo de sua leitura? Ao fim da vida, ou o recomeço da nova vida? Se tudo prossegue um eterno ciclo de cobras mordendo o próprio rabo, e engrenagens que mudam mas continuam com a mesma essência, onde se encontra o fim? E onde reside o começo?