Águas de novembro

O tempo escorrega por nossos dedos

feito água da chuva de novembro,

que cai suave e ininterrupta

molhando a terra, e a rua,

e a alma da cidade.

E sentindo a avalanche de suspiros

que concentraram-se na manhã silenciosa,

ouviu-se bem cedo os olhares a piscar

como se bandeiras fossem hasteadas no monte

indicando o início da guerra.

E ninguém estava preparado...

Na relva da cidade, motores a ranger

rasgando feito adagas de corte

a pele nua de um vilarejo ingênuo

que sonhava amanhecer amarelo,

como domingo na praça.

Mas não teve sol,

nem domingo,

nem toada.

Cantou-se feito tamborim de exército

e a batalha nasceu enjambrada,

silenciando os poetas e os raios de sol.

Agora,

como se o constrangimento não estivesse estampado nas faces,

eles simplesmente se retiram

feito animais covardes que semovem nas sombras,

largando para trás os resíduos de uma disparate ação,

e as lamas inconsequentes que invadiram nossa casa

nesta manhã de segunda-feira chuvosa.