Folhas de vida

Folhas de vida

Perante o suave deslizar deste rio tão puro

Que assemelha a vida de quem sabe viver,

Pergunto às suas águas se são essas idas

A resposta silenciosa se sabe ouvir.

Assim leio o livro em que escrevo a minha vida.

Cada dia uma folha eu devo escrever e passar,

E me vem à boca a careta de um sorriso

Que não tenha de partir nunca no ponto e no final.

Vivi loucuras como todos as vivem.

Vivi bêbado de felicidade.

Sonhei acordado mesmo que todos me dizem

Que é o único caminho que não se deve andar.

Alegra-me o cumprimento de qualquer um em todas as minhas manhãs.

A alegria do rosto de quem me dá.

A luz do dia seja cinza ou seja clara.

O tempo delicado ou o tempo de tempestade.

Também vivi longas horas amargas.

Dias de inferno que chegaram a queimar,

Abrindo na alma feridas já cicatrizadas

E ainda tem o meu verso a marca de um recente punhal.

Mas, perante o alto Pinheiro em que perco a cabeça,

Sentado sobre esta pedra de rio que me dá tanta paz,

Aviso que o vento não sopra ao som da água.

Nada é eterno. Como o sofrimento, como a felicidade.

Vil Becker
Enviado por Vil Becker em 01/11/2016
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