Epopeia anônima

EPOPEIA ANÔNIMA (Canto 1)
Miguel Carqueija


“A minha vida se esgota em ilusões.”
(Álvares de Azevedo, “Idéias íntimas”, parte 8, do livro “Lira dos vinte anos”)

Pelos caminhos da vida
aqui eu chego esgotado:
como se deu a partida
já esqueci no passado.

De tantas encruzilhadas
em que ponto me perdi?
Errante por mil estradas
acabei chegando aqui!

E por caminhos escuros
segui sem rumo e sem norte,
perdi todos os futuros
e hoje aguardo a morte.


E fui deixando pra trás
amizades e amores
que eu não vi nunca mais
e me legaram as dores!


Vi, num sonho, cães ferozes e negros,
ameaçadores dobermans, se acercarem de mim
babando e rosnando...
e não aceitaram nenhum biscoito.

E enquanto as pombas ciscam na rua o dia inteiro procurando comida
eu passo o tempo inteiro buscando em vão aliviar minha vida.


O mundo é tapeçaria
dizia o Edgar
e eu sigo por esta via
sentindo-me um costurar!

Cachorros que aqui passaram,
foi tão breve seu passar!
Mas suas marcas deixaram,
suas lembranças a ladrar!


Se o mundo só fosse amor
seria doce esta vida
mas o caminho é de dor
e isso desde a partida!

Mas tudo enfim valerá valerá
se ficar pra trás o mal
e toda dor morrerá
se a Deus chegar no final!




(imagem publicdomain)
Nota: Edgar: referência a Edgar Rice Burroughs no livro "Tarzan e os homens-formigas", onde, na introdução, ele compara a vida a uma tapeçaria tecida pelo destino)

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