A dura marcha do miserável combatente

Rígida é a labuta, ínfimo é o tempo

Caminhas só, só Deus te escuta

Contínuo é o teu desalento

Fúnebre é o enredo, pérfido é o próximo

Incendiaram o teu belo arvoredo

Tuas raízes quase foram a óbito

Ferido foi o coração, e alma está esmorecida

Findaram as chamas de qualquer paixão

Na jaula do medo prenderam tua vida

De pedras é o caminho, fatigante é a jornada

Mas levanta-te, ainda que sozinho

O pranto eterno jamais dará em nada

Ignore o cinismo, resguarde a prudência

Encare o teu abismo

Espinhosa é a existência

Se tu vieres a partir, antes do alento derradeiro

Bom seria com brilho sorrir

Ao lado de quem te amou por inteiro

Posto que o sofrimento é lei, e a morte inevitável

Um conselho lhe darei, ainda que detestável

Não se sinta especial, tu não és sacralidade

És algo muito banal, tu não tens eternidade

Tu és simples poeirinha, deste vasto universo

Não tens nada garantido, teu amanhã é sempre incerto

Este mundo que te assombra, contigo não se importará

Caso venhas a morrer, flores seguirão sempre a brotar

O Sol sempre irá nascer, e se pôr na beira do mar

Até o luar que teus amores inspirou, ele sempre brilhará

Então, antes que os dias acinzentem os teus cabelos

Aprendas a bem sofrer, atendas ao meu apelo

Deserte a busca pelo que odeias e quer tanto desfazer

Mais nobre é buscar o que tu amas, e lutar para proteger

Ainda que as querelas do antanho tenham desaparecido

Não viva só pelo hoje, lembre a beleza dos tempos idos

E as recordações escritas em teu livro de memórias

Releia-as de vez em quando, ria das boas histórias

Faça das dores doutrora lições para enfrentar o agora

Comece, e quiçá poderá tornar vívido aquele fúnebre enredo

Libertar a tua vida e reviver teu arvoredo!