O TEMPO QUE ANDA

O calor do chá que se dissolve na fumaça

O passar das horas, tudo se esfria

Nota-se aí..., nota-se aí que o tempo passa

As mãos, que escrevem mais lentas

A mente cada vez mais desatenta,

A vista que se embaraça

Nota-se aí... nota-se aí

Que o tempo passa

Confere os mortos da família, outrora feliz

Na imagem da foto puída que o tempo desgasta

O peso dos anos na curvatura do corpo

Nota-se aí...., nota-se aí que o tempo passa

Olha os trilhos dos bondes enterrados

Os bancos carcomidos na praça,

Agora sujos e vazios

Onde suas estorias de amor fluiram

Quantas lembranças gastas?

Nota-se aí..., nota-se aí que o tempo passa

As latitudes da existência cada vez mais estreitas

Os olhos diminutos, o passado rarefeito,

Os raios de luz da manhã, embaçados na vidraça

Nota-se aí...., nota-se aí que o tempo passa

Rostos novos na família

A vergonha de não mais poder andar

As folhas mortas no chão,

A falta de afeição, a conversa sempre escassa

Nota-se aí...., nota-se aí que o tempo passa

A terra suspensa no cosmo, dando voltas sobre si mesma

Homem e a terra presos nas mesmas garras

Mais uma vez, vê a luz do sol se pondo, morrendo

Mais um dia que se passa

Nota-se aí...., nota-se aí que o tempo passa

As rosas sem viço, a paisagem pobre, sem graça

O murmúrio do mar no ouvido, as mãos frias

A poeira nos beirais, o pó encardido dos vitrais

Nota-se aí,,,,, nota-se aí, que o tempo passa!

Quer desenterrar os sonhos,

Não mais pensar na insipidez da vida

Na pergunta incômoda: há quanto tempo ninguém lhe abraça??

Percebe sua inutilidade, a presença da morte, suas trapaças

Tece por fim, a esperança tola de ser redimido,

Nota então, nota então, que o tempo passa!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 17/09/2016
Reeditado em 27/03/2024
Código do texto: T5763587
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