Céu
Céu:
Lugar intocado pelos homens...
Se por lá viajada,
Nunca deixa pegada...
De cor pura, nunca antes beijada,
De nuvens brancas trajada.
Véu:
Raios solares recebem ordens
Para colorir gotículas d'água
Cores na água enterradas.
A luz, sob as nuvens estampada...
Para o espetáculo estou atrasada!
Um pássaro do céu me contou... que é para lá que vão
Os homens que na terra cumpriram sua missão.
E as mulheres, perdidas nessa imensidão,
Da vida, da verdade, e também da ilusão,
Choram por tudo pedindo perdão:
Compraram cedo demais a passagem do caixão.
Parece um vácuo; espaço vazio...
Mas quando me toca, me dá calafrios.
Esse ar de nada...
Que respiro e me deixa arrasada.
Não sou obrigada a ser refém da sua incerteza.
Você acha que sim, mas em indecisão não há beleza!
Se esconde por baixo do pano, não coloca as cartas à mesa...
Tudo o que você tem é amor, mas só demonstra frieza.
Está tão escuro... pode deixar a vela acesa...
Estou tão confusa dentro da minha certeza!
Você não é caçador e não sou sua presa...
Não me coloque pavor, nem me olhe com estranheza.
Olho pro alto procurando por respostas.
Estou aberta, minhas cicatrizes estão expostas.
E você vai me tirando todas as memórias...
Minha mente vai lembrando e esquecendo todas as histórias.
Porque não vale a pena se for pra esquecer.
Não vale a pena se for pra ter e ter que perder.
Porque todo dia há morte em meu viver...
E há destruição e falta, dentro do meu ser.
Promessas repetidas em um loop,
Como num disco riscado: apenas escute.
Não há mais nada que tanto me ilude...
Quanto esse sentimento que me incute.
Não há respostas no céu nublado
Não há sol no tempo fechado
Não há parceria sem você ao lado...
Não há alegria no meu dia parado.
Mas sempre há luz em meio à densidade da escuridão.
E, no meio de tanta mágoa, um pouquinho (transbordante) de perdão.
No céu voam águias e gaivotas,
E também corujas e corvos.
Pássaros, livres, que seguem e perdem rotas...
Em seu cantar e pensamentos tão absortos
Que no seu voo livre se nota
A vida dos que são livres para perseguir os mortos.
E os sonhos escorrem entre as minhas mãos
E não há mais gosto no vinho e no pão.
Das alturas, dou com a cara no chão...
No hospital.. sem médicos de plantão.
Sangro, sozinha, fecho os olhos então:
Quem sou eu, pequenina, no meio da imensidão?
O céu, tão grande, só para mostrar que é.
O tombo, tão grande, para fortalecer a fé.
Subindo uma ladeira de marcha ré
Desço do carro e caminho a pé.
Ainda sobrou muito sono para pouco café...
Café tão doce... quente que é!