Poema não escrito
Morri, mas gostaria de ter escrito um poema sobre isso.
Morri de feitiçaria. O feiticeiro jogou contra mim o feitiço.
Havia muitas possibilidades, muito risco.
Agora uma se concretizou e vivo fora de mim, dentro da loucura, em um corpo postiço.
Hoje, sem estações, sem sensações. Quando morri era inverno.
E depois que morri, logo me despi, assim: me abri para o eterno.
Sem ter ideia da vastidão que isso era, estremeci. Quis o calor do inferno.
E entrei em uma briga, comigo mesmo, do externo com o interno.
Eu era quase um nada, ou talvez já um nada.
Não tinha mais tato, visão, audição, olfato ou fala.
Vagava por lugar nenhum... era uma alma condenada.
É o que chamam de alma penada.
Eu, com inveja dos vivos.
Eles, saudosos dos mortos.
Eu, com saudades dos risos.
Agora só tenho uns dentes tortos.
Vivia com tantos mimos,
Agora que de nada servem, dou-os aos porcos.
Preocupado com tantos grilos,
Agora só queria estar entre vivos corpos.
Minha vida sempre foi como um livro fechado: total sigilo.
Agora, faça o que quiser.. não ligo se abri-lo.