Rio
Rio,
Escorre no meu peito
E desce no meu leito
Tu não tens jeito
Não tens respeito
E desse teu jeito
És tão perfeito
Por isso rio.
Rio,
De que cor são tuas águas?
Te chamo para me lavar as mágoas!
Depois de vencer tantas provas árduas...
Choro e rio.
Rio,
Qual tua profundidade?
Se me afogar, quem me salvará, por piedade?
Será aquele a quem tenho saudades?
Ou será ele um poço de maldade?
Está mudando essa minha cidade
Eram outros rios no tempo de minha mocidade
Vejo que agora, vivendo na minha idade,
Perdi todas as minhas amizades.
Rio e deito.
Rio e leito.
Rio,
Que incessantemente e até hoje procura o mar...
O que farei quando ele me encontrar?
Dois a zero para ele estaria, se houvesse placar,
Pois ele sabe bem se esconder e eu não sei procurar.
Aos quarenta e cinco do segundo tempo, seria muito tarde mudar?
Pois que pecado há em tarde aprender... aprender a amar?
Só tenho medo de esse sentimento ele recusar.
Quantas lágrimas mais isso irá me custar?
Que cômica tragédia a representar!
Rio em lágrimas.