"ASSIM É O AMOR"

Doidas são as palavras...

quem manda elas saírem só porque existem...

só porque são letras agrupadas as faz importantes, e em tudo mexem...

num pedaço de papel escrevemos...

um pedaço de papel vai arrumado pró lixo...

e as palavras vão junto e se arrumam nesse arrumar...

nesse desenvencilhar de tudo...

em palavras nos amamos muitas e tantas vezes, nos entregamos, e fugimos até...

quem, e o que somos, em horas em que essas palavras não são mais que letras organizadas...(?)

o que acontece quando a palavra toma sua vez, e nos tira a nossa(?)...

safadeza das palavras, traição acoplada ao nosso estar, nossa forma de ser, e viver...

sol de pouca dura, são os pontos em que elas se afirmam em muitas das suas vozes...

onde entra, e o que será o amor no meio de todo um soletrar em palavras...(?)

"A"nsia de querer, de ser, de estar...

"M"anifestação de desejo, de vontades expressas...

"O"lhar esperado na retribuição, do tanto, de tudo...

"R"eciprocidade no nosso eu, do jeito que somos no outro...

sílabas, brigas consumadas no seu desenfreado momento, colapsos de entendimentos...

olhares esguelhados, sôfregos respiros em sinal de contenda...

rostos em poses de desafio, bocas cerradas em beijos mordentes entre dentes...

sons saídos em laivos de desafio numa espera de refrega justa na luta que se avizinha...

um embrenhar litigioso nas palavras esperadas, como se plano de guerra fosse engendrado ao mais ínfimo pormenor...

e numa conspiração entregássemos ás sortes tudo o mais...

seja, aguerridos somos, á guerra vamos com tudo que temos, e o que mais surgir...

somos o nosso próprio inimigo, lutamos no nosso eu, vingamos o nosso pormenor contra o outro...

o tempo ajuda-nos, faz-nos recuar a espaços em que sentimos que a vitória já era nossa...

inglórios momentos de injustas pelejas, retratos de vida sem côr, sem traços firmes, soltos apenas entre si...

misturas de côres entre sol e lua, noite e dia, sorrisos abertos e fechados nos rostos sombrios...

sinais do hoje, contrapondo as sinas de ontem...

como letra de musica cantada onde no dia se briga, mas na noite se ama...

em que as indiferenças se acabam no quarto, em cima da cama em paraísos imperfeitos...

em que o bom por vezes é ruim, mas onde o tempo joga sempre a favor...

um tempo sem tempo, em que a refrega não tem onde e nem como acontecer...

como o amor que chega e não avisa...

em que o chamado de dois, se resume na voz de um...

naquele que fala e um outro que ouve...

um que se rende a um outro que luta...

um que vai a um outro que o espera como condenado sem perdão...

fortes são as palavras quando em si explodem rasgos de vontades e quereres...

de desejos firmados em todos os pontos que as formam, e as soltam na sua máxima pujança...

firmes e resolutas nas linhas fraseadas em que se expõem...

dóceis na oferta de si mesmas...

amor em conflito dentro de cada um sangrado na sua mais pura forma de se esvair...

tudo conta, tudo vale, tudo é arte no seu mais puro traço definido em linha esboçada do querer...

fica apenas o tempo em que essa luta se faz e sente, num fogo de avassaladoras entregas...

em que não existe um vencedor, nem um perdedor. .onde a derrota existe quando as forças de ambos não mais os suportam e aí ambos saem vencedores...

surge um acalmar saído de uma luta sem tréguas, sem refreios, sem medos, e sem palavras faladas...

num olhar oferecido, trocado, se soletram sílabas não ditas em bocas que se cerraram...

bocas movidas apenas em trocados beijos sedentos de si mesmo...

em que os respiros partilhados falam do que os sustém, e os alimenta nas forças necessárias para todas as outras lutas...

em que de palavras apenas existem memórias...

e nelas apenas ouvimos no seu mais ínfimo recôndito, uma única voz...

aquela a quem entregamos nossas esperanças, e fortalecemos a fé...

e o que dizer mais...

...o amor é assim Armenio Pereira