Poesia Contemporânea
Nesse mundo contemporâneo,
Tanto de manhã, à tarde ou à noite,
Assiste-se sempre a mesma passeata
De zumbis, que sob a aurora,
Levantam-se da sua cova,
E à noite, morto-vivos,
Voltam.
O sol limitou o seu ofício,
O que era Apolo, outrora,
E dava luz e razão à raça humana,
Hoje, para a raça contemporânea,
É apenas a esfera solar,
Que aquece e se queima
Em si mesma.
E sua irmã, Diana,
Não mais recebe os ululantes
Delírios dos solitários, amantes,
Astrólogos e etc;
Na lua cheia, o seu grito
É agora o brilho
Da sua solidão.
Os pássaros cantam, todo dia,
As mais belas melodias,
Que seus ancestrais nunca conseguiram;
Mas não chegam aos ouvidos,
Dos nossos homens contemporâneos.
Pois esses cantos são suprimidos
Pelos sons das grandes cidades,
Pelo grito dos asfaltos,
Pelo ritmo da marcha de milhares passos,
Simultâneos.
Só quem sente o poder do sol,
A beleza da lua,
É sensível aos cantos esforçados dos pássaros,
E vê a grandeza das pequenas coisas
Escondidas pela superfície
Explorada e não explorada do mundo,
São os poetas, bêbados e vagabundos.
Mas eles estão sempre muito bêbados,
Para escreverem
A poesia contemporânea.