Poesia Contemporânea

Nesse mundo contemporâneo,

Tanto de manhã, à tarde ou à noite,

Assiste-se sempre a mesma passeata

De zumbis, que sob a aurora,

Levantam-se da sua cova,

E à noite, morto-vivos,

Voltam.

O sol limitou o seu ofício,

O que era Apolo, outrora,

E dava luz e razão à raça humana,

Hoje, para a raça contemporânea,

É apenas a esfera solar,

Que aquece e se queima

Em si mesma.

E sua irmã, Diana,

Não mais recebe os ululantes

Delírios dos solitários, amantes,

Astrólogos e etc;

Na lua cheia, o seu grito

É agora o brilho

Da sua solidão.

Os pássaros cantam, todo dia,

As mais belas melodias,

Que seus ancestrais nunca conseguiram;

Mas não chegam aos ouvidos,

Dos nossos homens contemporâneos.

Pois esses cantos são suprimidos

Pelos sons das grandes cidades,

Pelo grito dos asfaltos,

Pelo ritmo da marcha de milhares passos,

Simultâneos.

Só quem sente o poder do sol,

A beleza da lua,

É sensível aos cantos esforçados dos pássaros,

E vê a grandeza das pequenas coisas

Escondidas pela superfície

Explorada e não explorada do mundo,

São os poetas, bêbados e vagabundos.

Mas eles estão sempre muito bêbados,

Para escreverem

A poesia contemporânea.

André Espínola
Enviado por André Espínola em 19/07/2007
Código do texto: T570785
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.