Jogo de Xadrez para um Peão Suicida
Eu sou uma peça de xadrez,
Cansada, insatisfeita
Com sua eterna pequenez,
E que não quer jogar.
- um dos peões, talvez -
Canso-me dessa posição de mártir,
E digo bem alto:
- Basta!
Não jogo mais nenhuma vez!
- pois para um peão fracassado
o inferno é o fracasso,
diário,
entre o próprio eu,
e o do outro,
lá do outro lado -
O jogador, com medo
Que fique incompleto
O seu importante tabuleiro,
Põe uma arma na minha cabeça,
E assim me obriga.
Penso em desafiá-lo,
Mesmo com sua postura
Arrogante e altiva.
- Vai, miserável! Atira!
Mesmo sendo uma peça,
Não aceito que brinques
Com a minha vida!
Mas lembrei-me da regra
E calei-me.
- a regra é sempre a regra,
principalmente quando é a divina -
Cada um tem sua função,
Nesse jogo louco,
E sem razão,
Para deleite do único jogador
- único vencedor -
Joguemos, sempre, então!
Pois não temos saída.
Aceito meu destino,
Serei um peão.
Mas um peão suicida.