CARTA MAGMÁTICA
Há atividade vulcânica dentro de mim,
Não espero que você entenda.
Um Glutão rasga as minhas costelas por dentro
Meu diafragma se dilata até o limite
Um grito se expande desde a boca do estômago
Mas a erupção congela no goela do vulcão,
Encouraçado por uma crosta fluida de pedregulhos.
Há atividade magmática dentro de mim.
Se pudesses olhar além das minhas lentes
Por certo veria a altura das cicatrizes,
Não aquela, mas outra, mais outra e ainda outra…
Mergulho ao mais profundo das minhas recordações
Procurando embriaguez ou ira, ou ambas, se possível.
Há atividade vulcânica dentro de mim,
Mas a métrica me impede de explodir.
Parece que enfim venceste, ó couraça maldita – A minha carne.
Contenho toda a energia no meu tórax,
Um nó se faz com as fibras do meu peito.
Lembro-me da semana passada por um semestre inteiro.
A dúvida, o ego, o orgulho, o medo endurecendo e ganhando outro nome
Despedacei-os contra a parede e deixei que tua lembrança me ferisse,
Que penetrasse meus neurônios sem anestesia,
Dia após outro, numa execução extensiva, um pouco de morte por dia.
Tirei as trancas do portão principal, derrubei o muro,
Arranquei as cortinas da casa, abri as portas, disse: “vem!”
Mas o sol se escondeu e as nuvens eclipsaram a lua,
O café esfriou nas xícaras de louça nova servidas na mesa,
E eu fiz questão de requentar e beber sozinho, pois queria.
Há imobilidade vulcânica dentro de mim.
Aos poucos vira rocha, meu magma, no núcleo do meu planeta.
Sinto-me amputado, sem extremidades, sem pontes.
Com uma cisão na altura da minha pelve,
Uma divisão em dois hemisférios.
E a felicidade de não seguir o rumo das próprias pernas.