De um desalmado só

Então veio o silêncio

Como uma pedrada entre os olhos,

Deixando cego o expectador da guerra

O silêncio veio furtivo como uma noite num dia nublado,

Como uma lembrança de infância, carregada de ressentimentos.

O silêncio veio e fechou a porta da frente e cortinou as janelas.

Derramou as águas acumuladas nas calhas da casa.

Veio o silêncio, e esvaziou os quartos de dormir, levou embora o sono, jogou fora as chaves dos armários trancados da alma.

O silêncio empoeirou os sofás da sala, a televisão, os DVDs piradas e o oratório preto de madeira cheio de louças novas.

O silêncio violentamente rompeu as cordas do violão afinado,

Desafinou as cordas vocais do tenor,

Desligou o carrinho de som que tocava músicas bregas ao meio dia, parado no meio fio da calçada.

O silêncio desgastou as pontas das canetas nanquins descartáveis, deixou a folha do desenho em branco.

O silêncio riscou cadernos e copiou estruturas de textos de autores famosos.

O silêncio calou o meu nome...

Levou embora a fala, a poesia, encouraçou a expressão, apagou do smartphone as conversinhas passa tempo de minutos, demitiu do cotidiano os substantivos carinhosos empregados.

Calou a angústia e o riso, calejou a incerteza e a fé.

Desajuizou o sábio. Simulou sabedoria.

Camuflou a existência.

J Caetano Jr
Enviado por J Caetano Jr em 18/05/2016
Código do texto: T5639564
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