A Frágil luz do Sol que então Nascia
As melhores músicas se ouvem em total silêncio...
Cântico I - Significados são estéreis e impraticáveis
Sei que é difícil encontrar numa hora destas
A palavra certa pra dizer enquanto ainda se tem
Os poucos momentos contigo em que ainda não me percebo sem ti
Ou... será que escondo nestas lembranças nostálgicas
O medo do que há de vir depois de agora?
As lembranças mais doces me confortam da despedida
E ao mesmo tempo me dilaceram querendo me deixar
E ao ir levam também minhas forças,
as que eu tanto precisava para resistir
Novamente me lembro extasiado dos bons momentos
E relembro que estão me deixando, ilusões mortas
Povoam meus pensamentos do que nunca mais vai ser
Tudo turvo e enevoado, enxergo com dificuldades
De repente sinto que estou realmente sozinho
Respiro fundo e me deixo acreditar no impossível
Até que o coração sossegue e se veja enganado
E nada mais do que eu possa dizer o consola
As coisas se tornam metamorfoses diante de mim
Não há poema que seja legível e interpretável
Nem palavras que alcancem o desconhecido
Significados são estéreis e impraticáveis
Cântico II - A luz que se despedia pra sempre
Eram pequenas e grandes folhas secas
Levadas para longe pelo vento para o sul
As luzes deixam com o Sol as sombras
Em toda parte as cores se apagavam
Lentamente vinha o silêncio e o repouso das coisas
Muito longe muito longe ouvia os carros
Sons distantes perdiam-se no ar
Conversa com eles o meu silêncio
Particular diálogo calado sem dor
Já ouvira falar em tais poemas?
Aqueles soltos no ar como promessas,
Numa despedida de verão
Onde tudo que resta é o frio e as lembranças?
Onde? Onde exatamente havia esquecido.
Quem eu era e porque havia me perdido
Naquela noite de ventos tão fortes
Batendo janelas e inclinando árvores?
A perpétua noite dos tempos
tão densa quanto o céu escuro
em uma noite sem luar
O tempo parou e a dor repousou em mim
Havia frio naquela noite
E os céus em mim fechados
Sombras, sons e vultos
A luz que se despedia pra sempre
Cântico III - O leve despertar
Animais pequenos e furtivos
Roubavam das flores seus tons
Desapareciam pela floresta
Deixavam sementes espalhadas
Era já dia, bem cedo
luz por todos os lados
O ar era leve de se respirar
Cheiro de madeira aquecida
As árvores que quisesse ser
Assim poderia ser bastando olhar
As montanhas distantes sem tocar
Lá estava sem eu sair do lugar
Havia no céus três dimensões
Ventos espalhavam nuvens
em todo chão pedras e insetos
Lá estava voando com algum pássaro
Rochas de tamanhos diversos
Espalhadas por toda a terra
E os seus rios levavam tudo
Por caminhos misteriosos
Cântico IV - A tempestade
Inundou os céus nuvens negras
Vento poeirento varrendo tudo
Um minuto de silencio esvoaçante
Antes da queda
As feras e outros animais se recolhiam
Ventos desesperados agitando galhos
A luz se esvanecendo sobre os seres
Como um véu negro de mortalha
O medo tomou conta de mim
E ameaçou meu pequeno abrigo
Raios disparados contra a terra
A precipitação implacável da água
Ventos surrando portas e janelas
Não tive medo desta morte
Me lancei sobre as águas
E os ventos me envolveram
As luzes que rompiam a escuridão
Despedaçava árvores e rochas
E um vento muito forte e barulhento
Se tornava meu canto também
Eu era o raio que despedaçava as árvores
O vento que chicoteava os arbustos
Água que por todas as partes inundava
E a correnteza levava a terra pra longe
A escuridão que envolvia os seres
O frio que trazia o vento úmido
O solo encharcado não sugava mais água
Alagando solos e enchendo os pântanos
Assim foi a noite que se fez em mim
E a tempestade que limpou minha alma
Minha alma era o próprio vento calmo
E a frágil luz do sol que então nascia.