Oliveira
"Você acredita em vida após a morte?", quem assim me perguntou foi um sopro de olhos claros e de lábios finos naquele barulho espesso. E profundo. Como se houvesse morte após a vida. Como se houvesse a divisão dos termos. Como se os conceitos fossem claros. E como se existissem conceitos, que não se
prestam a outra coisa senão sapatear em areia.
Se acredito, acredito na tragédia existencial de morrer enquanto se está vivo, de deixar de sonhar enquanto se respira, de olvidar as cartas de amor que deveriam ter sido e não foram. Dos amores que o vento trouxe mas que entregamos às borboletas.
Acredito na morte como chave de ouro de uma peça teatral à la Baudelaire. Acredito na ocupação de desígnios e de intentos que vão tomando poeira pelo corpo e não saracoteiam o próprio destino.
Acredito em destino. Mas destino, claro, como fruto de árvore, regada ou relegada, fruto é.
Mas no tocante à crença, que indecência!
Sequer tenho competência para discorrer sobre aquilo que me termina.
Ou sobre aquilo que me começa, como você.