ETERNO REFÉM

Paços serras, matos, motos

O céu está muito além

Rio corre endoidecido

Um anjo da guarda vem

Abriu a porta, entrei

E saiu somente quem

Joguei meu anel no mar

Pedi, mas não vi ninguém

Não faço mais espetáculos

Nem para ganhar vintém

Saltei do despenhadeiro

Um monge disse: amém

Será que ali é o céu

Ou as cúpulas de Belém?

Queria que fosse lá

Mas estou muito aquém

Não é neve nem brisa

É o vento do Éden

Como é bom ser marinheiro

Fascinado com o vaivém

Na noite em que me deixaste

Eu corri a mais de cem

Se for para embarcar

Dizem que já foi o trem

Naquele lugar sombrio

Rezam o teu requiem

Sou fausto, mas ontem mesmo

Sucumbi ao teu desdém

Eu penso que há veneno

Será que o teu lábio tem?

Alisei os teus pentelhos

Gozem no teu vaivém

Não deu pra satisfazer

Te espero em meu harém

Tenho medo de te amar

Que não me ames também

Diz-me: tu me amas?

Ora, ora, nhenhenhém

Queres que eu morra logo?

Quem ama não mata, heim!

Jurei por Deus muitas vezes

Pelo teu mal, pelo bem

Por onde fores eu vou

Ser teu guia, teu pajem

Se te disser: dou-te um tiro

Vai ouvir o blemblemblém

Passou a noite, é dia

Cochilas como nenen

Mourejo, confissão e sangue

Transmuta para o zen

Arrancar do homem a pau

E do touro a sedém

Para bandido ou santo

É tudo como alguém

Estar em terra ou no mar

Morto ou vivo, um refém.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 06/05/2016
Código do texto: T5626772
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