Trovas de um manuscrito encantado
Há momentos que só quero dormir para sempre
Perder-me em meus sonhos de castelos e cavaleiros
Navegar em mares desconhecidos
E desbravar terras há muito temidas
Mas as correntes da realidade me prendem
E os vilões reais me parecem bem mais sérios
Não me deixando escapar de suas ciladas
Oh vida puxada!
Caminhando entre muros estreitos
E escorregando em ladeiras íngremes
Vou me mantendo acordado nessa luta sem trégua
Onde os aliados são invisíveis
Os desafios quase impossíveis
Minha cabeça não para de doer
E as visões de um futuro utópico desaparecem
Dando margem há um apocalipse em minha vida
De dias a meses de trevas que caminham a minha frente
Não consigo me concentrar e termino sempre como um solitário pensador errante...
Lá naquele quarto pequeno e cheio de coisas
Existo entre duas realidades
A que escrevo e a que vivo
Mas o meu coração só pode viver uma
As vozes começam a gritar e as visões a me dilacerar
Num plano quase astral
Uso o escudo do amor para me defender
Sendo ele meu último e único recurso de felicidade
Para fugir desta amarga verdade
Para me perder em seu sorriso e refugiar-me em um distante paraíso...
A tempestade então explode
O trovão ruge e vento corre
Ali estou no meio da colina negra
Segurando minha espada enferrujada
Usando minha velha capa desbotada
Meu cavalo me abandonou
E a minha princesa esta ao meu lado
Protegida pelo valente escudo
A armadura sucumbe aos farrapos
Cheia de falhas e buracos
Na minha frente dois homens
O mago e o espadachim negro
Minha sabedoria esquecida e meu esforço abandonado
Eram parte de mim e hoje meus inimigos jurados
Mas não recuo e então começa a batalha final
Dos fortes contra o fraco
Do sem sorte contra a maré alta...
Espadas se chocam e chovem raios
Montanhas se partem e florestas se abrem
O espadachim aos poucos vai me sangrando
E o mago vai lançando suas magias treinadas
Ofuscando meus sentidos e iludindo minha mente
A espada da esperança ataca de todos os lados
E o escudo do amor começa a se rachar
Olho em seus olhos, deu-lhe um último beijo e faço o necessário
Deixo meu amor protegida pelo escudo e corro de encontro aos meus algozes
Na direção do mago eu jogo a esperança e dou adeus a tudo
Ele recebe a espada em seu peito e enquanto envia sua lança de gelo em mim
No último momento distraio o espadachim e juntos recebemos o gelo empalado
O mago grita e se desfaz numa explosão se sacrificando e levando tudo
Caí uma lagrima dos meus olhos e abraço o espadachim, ele sorri pra mim e viramos um só novamente junto com o espirito do mago...
Ah mundo cruel, dor infinita e derradeiro legado,
Onde a esperança se foi num ato heroico e o amor ficou sozinho novamente salvando meu bem amado...
Ela acordou na beira da praia com o escudo a cobrindo, de longe viu rastros de nossa batalha e chorou até o fim dos tempos...
É segunda feira e acordo assustado
Respiro devagar e olho a data
Penso de novo e suspiro calado
Num canto ali na mesa do computador
Jaz um manuscrito encantado <3.