Cento e vinte quilômetros
Os pés na janela não me permitem ver direito,
Mas a velocidade me ajuda a compreender claramente.
Onde estou, qual é o nome? Nem sei bem a teu respeito.
Mas a curva é acentuada e sei que ela, ah! Ela não mente!
Quantas vezes por esse caminho eu não fui só,
Tinha uma lista de sons tocando no aparelho e comigo,
E cantei até perder a voz e até chorei. Ou calei em nó.
Então a curva surgia. Chegavas então o sorriso amigo.
Sorriso que eu conheço e nem sei por quê. Apenas vejo.
São poucos quilômetros, menos de cem. E tantos metros!
O sol da manhã me queima os braços e me fere em beijo.
A velocidade é a mesma e a saudade não serve de parâmetro.
Aqui estou! Estamos todos. Sol, mormaço e suave voz.
Sotaque paulistano, jeito de pantaneiro. Ambos longe de casa.
Dois dias e uma noite. É preciso voltar, pro lar, pra o que sou.
E então vou. Mais leve, mais calma e para a vida mais veloz.