ENTRE GRITOS E SILÊNCIOS

O silêncio me ama, mas talvez não tanto quanto o meu ser o procura. O barulho em mim habita, mas talvez não tanto quanto dele procuro me aproximar, ao mesmo passo que, dele tento me afastar. Estou envolvida a todo o tempo e instante por uma gama constante de palavras, gritos e sussurros, alguns dizem tanto e outros nada contam, mas ainda sim, aqui estão, embriagando-me com suas falações. Dizem que a palavra é um dom, que o lógos é a razão, que o homem é o embrião e que o ser é essa combustão entre o falar e o pensar em um mundo de ação. Dizem-me que as palavras são infinitas; mas infinito mesmo é o pensamento que as produzem; dizem que falar é algo primordial e sensacional, mas essencial mesmo é essa coisa em si, que me faz compreender o sentido de cada expressão, a entrelinha que brilha e que aqui está, pronta para ser lida e compreendida por uma mente mais aberta e menos encoberta pelos chavões das bocas cheias e mentes vazias. É! Talvez eu ame o silêncio, porque nele eu encontro a possibilidade para enxergar uma fresta de luz que me leva a uma realidade desdobrada em meios aos imensos discursos, e me proporciona o toque com uma superfície sem ruídos, mas que grita por ideias. Sinto-me assim, mergulhada nas profundas águas de um silêncio ensurdecedor que abriga o meu interior, e quanto mais eu falo mais eu sinto necessidade de calar.... mais quanto mais eu calo, mais eu sinto que devo voltar a falar... quanto mais eu volto mais eu quero ficar... e quanto mais do silêncio me aproprio mais tenho vontade de em gritos me envolver, porém, não em gritos de altos rumores... o que me permite entre gritos e silêncios ficar, é o silêncio do grito e o grito do silêncio que uma realidade que me faz criar e dela me embriagar.