Na carne
Gole de café,
esperança no peito
e chapéu nas mãos trêmulas.
Faz frio sim, senhor.
Faz tempo que não me acostumo.
A projeção da lareira,
o sonho da família reunida,
a ceia que ocorreu,
o maldito ônibus que sempre atrasa.
Essas reminiscências me ocorrem na carne.
Gole de café,
cigarro amassado
e um coração mais amassado ainda.
A bandeira e seus amantes,
a bandeira que tantos dão.
Sinal da cruz em frente a igrejinha,
para fazer de conta que somos civilizados.
Deixe disso, senhor,
que crises se desenrolam
sobre a cabeça de quem sustenta
essa bosta.
País de todos,
país de tolos.
Gole de café e indústria de torpor...
Acorda, José!
Pois não sabes dormir.