Memórias de um Suicida II

Ouço um estampido, junto a minha cabeça

Minha mão recua e meu cérebro fica areado

Algo queima minha fronte, arde sem parar

Há um barulho de cachoeira, contínuo

Sinto que ás forças se esvaem, amiúde

Ao longe há pessoas a gritar e chorar

Os sentimentos de outrora amenizam

O fim não me parece tão cruel, dantesco

Sinto um gosto forte de sangue na boca

Tento cuspir e não consigo, engulo-o

É inevitável o término da existência

Penso no fim que galopante aproxima

A convulsão muscular que amedronta

A rigidez do corpo que é inerente, certa

Os agentes funerários tapando orifícios

Os fluídos corporais devem ser detidos

Por fim, o enterro, o jazigo, a despedida

Os ávidos vermes aguardam ansiosos

O banquete visceral que aproxima-se

Inebriarão na doçura de minha carne

Deixarão apenas, os ossos e os cabelos

Depois de intrépida e louca aventura

Recolherão meus restos em sacos

E ouvirão apenas, o farfalhar dos ossos

Sentirão o cheiro "sui generis" da necrópole.

28/03/2016

ILARIO MOREIRA
Enviado por ILARIO MOREIRA em 28/03/2016
Código do texto: T5588057
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