Aquela "fulô" de outrora

Os olhares da menina,

os sussurros do mato selvagem,

a beleza das mães

que ontem

amavam

e beijavam

húmus e glória

e se davam

em paixões enlouquecidas,

agora restam

sob a penumbra

de escárnio político

de governos desgovernados

e anúncios de rodovia.

Transpomos os verbos

e a canalhice dos véus.

Transpomos réus confessos

sem dolo nem culpa.

Filhos da puta que somos!

Cai o corpo na ladeira,

cai o copo sobre os corpos,

cai a carcaça do holocausto solitário,

e badalam os sinos,

rotina de quem morre aos poucos.

Chuva que não cai,

terra preta,

retina e carrapatos postos à mesa do assum,

gente, amores,

fé seca dispersa em pratos vazios

e pranto pujante.

Controverso, Pai!

A escassez do meu sertão

não necessita de remédios,

mas de vida.

Somente.

Semente.

Aquela "fulô" de outrora.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 01/03/2016
Reeditado em 02/03/2016
Código do texto: T5560729
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