Quanto mistério!
Quanto mistério
em frente ao mar.
Amor,
injúrias,
filhos concebidos
sob ressaca,
travessias e milagres
na brasa fedida dos cigarros.
Revê, menino!
Revê, menino!
Tesouros esquecidos
em braços de meretriz,
méritos desiguais
e estórias de quem ama,
orações equivocadas
sobre proas e pranto,
o chamado da mãe para o jantar,
o chamado da morte
que sorri no mar.
Quanto mistério!
Vai lá, menino,
fita a madrugada,
brinca com os corpos,
paga o preço
e zomba do acaso.
Celestial,
ictiófago,
dezenas de marés
de boas vindas
e adeus.
Quanto mistério...
Sobrevive o menino
abraçado às âncoras.
Ali estava.
Ali esteve,
pescando vida
a vida inteira.