Leve semelhança

Deita cansado o corpo

sobre copos e reminiscências

de bons tempos.

O homem clama,

relembra as palhoças

e a gênese dos equívocos,

chora pelo amor esquecido,

perde oportunidades de calar,

de casar,

de perpetuar a dúvida

misteriosa que conduz

sonhos errantes ao bar,

à embriaguez noturna

dos puteiros.

Erra o caminho!

Erra o caminho!

Becos,

berros,

cópula vagínica,

tanto em comum.

Acerta os ponteiros,

ajeita as calças

e o terço suado no peito,

que é hora de pagar a conta.

Cuida, que a vida vai cobrar com juros.

Cuida, que a família vai sobrar.

Te juro!

A madrugada

geme violenta

em radiolas de ficha.

Levanta

o cidadão filho

da indústria,

ergue as mãos,

ergue os tostões,

ilude os gestos

e ajoelha-se perante o mundo.

O que procurará, meu Deus?!

O que, senão perdão?!

A serpente é perniciosa,

tem garras,

tem veneno,

tem uma saliva

que adoça o lábio adormecido

e rabo.

Perdão, Senhor, que é fraca a semelhança.

Rabo de saia,

rabo desnudo,

diabo de prazer

que habita em mim.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 24/02/2016
Código do texto: T5553773
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