Fazei isso em memória de mim

Umas taças sonolentas de vinho,

uns vexames de amor

co'o retrato teu agarrado à face,

palavrões,

sermões de esgoto,

perdões,

telefone (pra quê?),

tanto faz.

Hora de poesias tristes

e cantigas de maldizer, rapaz.

Não há tanto sentido

em sentir amor tamanho assim.

Quando eu havia

abandonado o paladar noturno,

quando havia mel

e espetáculo nos risos,

quando eu havia

consertado os cacos

e evitado concertos estridentes

de luas e lobos...

Fecha-se a porta, sumariamente,

sangra o peito e a noite

carrega nos braços minha moça.

Febre e areia,

agouro de cães

e terços em mãos de cadelas,

cercos de gente

e preces premeditadas

para a hora final.

Esperar, moça,

que há tempo para tudo

embaixo dos céus.

Espera, amor,

que o paraíso é de nós dois

e teu egoismo desajeitado em ir sozinha

me dilacera.

Taças sonolentas de vinho...

Fazei isso em memória de mim.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 21/02/2016
Reeditado em 21/02/2016
Código do texto: T5550787
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