Fazei isso em memória de mim
Umas taças sonolentas de vinho,
uns vexames de amor
co'o retrato teu agarrado à face,
palavrões,
sermões de esgoto,
perdões,
telefone (pra quê?),
tanto faz.
Hora de poesias tristes
e cantigas de maldizer, rapaz.
Não há tanto sentido
em sentir amor tamanho assim.
Quando eu havia
abandonado o paladar noturno,
quando havia mel
e espetáculo nos risos,
quando eu havia
consertado os cacos
e evitado concertos estridentes
de luas e lobos...
Fecha-se a porta, sumariamente,
sangra o peito e a noite
carrega nos braços minha moça.
Febre e areia,
agouro de cães
e terços em mãos de cadelas,
cercos de gente
e preces premeditadas
para a hora final.
Esperar, moça,
que há tempo para tudo
embaixo dos céus.
Espera, amor,
que o paraíso é de nós dois
e teu egoismo desajeitado em ir sozinha
me dilacera.
Taças sonolentas de vinho...
Fazei isso em memória de mim.