Sandice
Perdi a cena, filha.
O poema pronto,
o discurso certo,
o deserto e as putas,
as incertezas de amante,
a escrotice escondida nos versos.
Perdi o ônibus,
a hora do trabalho
e as boas novas.
Culpa da cachaça, mas sou brasileiro.
Culpa do governo, mas sou brasileiro.
Culpa da tamanha fé, mas quem sou, meu Deus?!
Culpas a quem possa ser atribuído qualquer culpa.
Nobreza?
Sandice!
Perdi o jeito.
De falar,
de beber,
de substantivo, por vezes,
de fazer preces acaloradas por perdão
(eu que tanto mato e não perdoo).
Mas não faz mal,
improvisamos bem,
mares, amores,
males, senhores,
braços abertos nos salões,
pernas abertas nos becos,
contas bestas no fim do mês,
casinha de campo
e campos de concentração.
Concentração é essencial, filha...
para perder, inclusive.