Sandice

Perdi a cena, filha.

O poema pronto,

o discurso certo,

o deserto e as putas,

as incertezas de amante,

a escrotice escondida nos versos.

Perdi o ônibus,

a hora do trabalho

e as boas novas.

Culpa da cachaça, mas sou brasileiro.

Culpa do governo, mas sou brasileiro.

Culpa da tamanha fé, mas quem sou, meu Deus?!

Culpas a quem possa ser atribuído qualquer culpa.

Nobreza?

Sandice!

Perdi o jeito.

De falar,

de beber,

de substantivo, por vezes,

de fazer preces acaloradas por perdão

(eu que tanto mato e não perdoo).

Mas não faz mal,

improvisamos bem,

mares, amores,

males, senhores,

braços abertos nos salões,

pernas abertas nos becos,

contas bestas no fim do mês,

casinha de campo

e campos de concentração.

Concentração é essencial, filha...

para perder, inclusive.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 19/02/2016
Código do texto: T5548342
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