Fui à feira roubar fruta
Fui na feira
Roubar fruta.
Eu mais um truta.
A gente era pequeno
Não tinha nem dez anos.
Fui pego
Com a mão na massa.
Não era fome
O que eu tinha,
Mas confesso
Nunca tinha maçã
Na minha casa.
Nunca faltou pão à mesa
Nem boa lição
Por parte dos meus pais,
Mas a rua ensina
O inverso.
Não era perverso aquilo.
Era certa falta.
Talvez adrenalina.
Não! Não era pura diversão.
Era vida.
Levei uma coça
E aprendi na prática
Bem cedo
Certos enredos:
Estratificação
Limite
Preço
Medo
Esperas infindas
E sabores caros
Distintos
Caminhos estreitos
E escolhas poucas
A serem feitas.
Foi cedo,
Mas foi na hora certa
Decisiva aquela treta.
............
OBS:
Muito tempos após este fato, li em Confissões de Santo Agostinho, que ele, quando jovem, ia com frequência, com amigos, roubar frutas em um pomar, e não fazia isso por que tinha fome, já que era de família rica. Além de tudo, ele e os amigos zoavam o pomar, derrubando as frutas que não comiam etc. Depois, ele concluiu que há certo prazer em fazer maldades. Hoje os jovens ricos batem em empregadas domésticas e prostitutas e queimaM índios por aí. Os jovens pobres quebram orelhões, pixam paredes e fumam crack. Os primeiros são amparados pelos seus "papais", os segundos são chacinados na perifa.