"...em cuja poesia há a marca suja da vida"
Manoel Bandeira

AGORA

Um enviesado poema,
De angústia extrema,
Sem pé nem cabeça,
De alma avessa
Despido de pudor.
Um poema caramujo,
De estranha textura,
Com teor de loucura,
Sem as coisas do amor,
O amor fica para os apaixonados,
Para os inocentes de plantão.
Um poema sujo,
De complexo estado,
Entrelaçado com a imperfeição,
Com a incerta realidade,
Cor de chumbo, densidade.
Um poema de deslizes,
De jardins sem florais,
De pecados capitais,
De becos, de meretrizes,
De mãos estendidas,
De retalhos de vida,
De rasuras nas sendas,
De páginas da agenda,
Usadas para rascunhar versos,
Um poema que dê acesso,
À vida como ela é,
Um poema sem fé,
Sem a beleza da aurora,
...É esse que eclode agora.