O sapo rebelde
Dizem que colocando um sapo na panela,
Com alguma água e levando ao fogo aceso;
Sofre lento aquecimento sem evadir-se dela,
Morre como se fosse, inelutável sina aquela,
Não vendo o que pesa, apenas, sofre o peso...
A vida tem muito disso de nos ferver lentos,
Para não identificarmos à fonte da quentura;
Assim, adormece os nossos reativos intentos,
E nos cozinha, nos mais injustos momentos,
O calor nos incomoda, a fonte segue escura...
Detesto morte lenta, prefiro de um golpe só,
Por faltar meu chute, não fica em pé a barraca;
Prefiro ver a ilusão doentia misturada com pó,
a ser coautor omisso, do aperto injusto do nó,
não sei desatar? Ao menos, sei usar uma faca...
Ameaçam os queimadores com fundo do poço,
Como se, a sua quentura fosse minha garantia;
Sem “proteção” estarei com corda no pescoço,
Mas, prefiro o risco, ao cozir monótono, insosso,
Do fundo do poço, dizem, se vê estrelas de dia...
Então, não digo que quebre tudo, de bom gosto,
Tampouco, gosto de sina de agonizar à míngua;
Suporto um tanto, não o rigor de eterno agosto,
Se, para mim, o pão custa o suor do meu rosto,
Porque a eles, cujo pão é maior, saliva e língua...
Saltou da panela, pois, o sapo aquele, do início,
O calor excessivo se fez, enfim, o seu vivo alerta;
Que ainda estava vivo, erro o necessário indício,
Há rebeldias que são só perversão, doença, vício,
Mas, a do amor próprio é saudável, vital, liberta...