Passageiro
A vida cambaleia entre postes e carros,
sugere desistência e sangue na calçada,
gritos, uivos, ressaca sob lençóis.
A vida é viva, e de tão viva
me sufocou os instintos,
tirou-me o fôlego,
rasgou o véu sem pedir licença.
Trôpego, caminho rumo à noite,
mas é sabido que toda noite tem sua luz,
objeto de fé e de troca.
A vida escorre por entre os lábios,
cachaça e ceias, organismos multiformes
que ensejam a ruína do homem,
sequidão demais, cirrose enferrujada,
coisa mundana de um filho de Deus.
"Ainda hoje estarás comigo no paraíso"...
A vida não cambaleia mais, Senhor,
resta imóvel, fria, sobre a pedra,
pois já estou no trem.
Passageiro.