Passageiro

A vida cambaleia entre postes e carros,

sugere desistência e sangue na calçada,

gritos, uivos, ressaca sob lençóis.

A vida é viva, e de tão viva

me sufocou os instintos,

tirou-me o fôlego,

rasgou o véu sem pedir licença.

Trôpego, caminho rumo à noite,

mas é sabido que toda noite tem sua luz,

objeto de fé e de troca.

A vida escorre por entre os lábios,

cachaça e ceias, organismos multiformes

que ensejam a ruína do homem,

sequidão demais, cirrose enferrujada,

coisa mundana de um filho de Deus.

"Ainda hoje estarás comigo no paraíso"...

A vida não cambaleia mais, Senhor,

resta imóvel, fria, sobre a pedra,

pois já estou no trem.

Passageiro.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 03/01/2016
Código do texto: T5499023
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