PENUMBRA

A noite é solidão!

Solidão sem ser tristeza - apenas solidão que perdeu o encanto das luzes

vestindo-se de penumbra. A penumbra favorece a minha caminhada com passos rápidos pelas calçadas de petit pave esbarrando aqui e ali, nos seres da noite. Vou esquadrinhado a noite e os vultos que por ela transitam. Faço parte. Também estou na noite. Também sinto o cheiro acre da solidão e o bafejo insolente dos bueiros, vejo o carro que não para, ouço o choro da prostituta e o arroto do bêbado. A noite é ferida aberta, expondo a carne e o medo. Preciso ir mais rápido, antes que o tempo se desfaça e eu desfaleça, preciso encontra-lo para que abra os meus olhos e me mostre que não estou só, que o tempo não é finito e que eu posso voar montada em suas asas protagonizando todos os seus sonhos imorais.