Apropriação indébita
Estranha essa alma que me habita,
De incisivos cortes e bálsamo suave;
Ora sobe no pico e indignada grita,
Ora escreve música em soturna clave...
Macia qual água, molda-se ao leito,
Por tortuoso que seja, nele se alinha;
Atribui predicado conforme o sujeito,
De modo que o sumo denuncie a vinha...
Relevo acidentado abriga frágeis flores,
E no fundo do vale enraíza o pinheiro;
Fatos, são o sol que valoriza suas cores,
tem outros valores, mais que dinheiro...
Não é pretensão uma exposição assim,
Nem sei se é belo, é mirante, momento;
Mas, pode ser espada se ouve um clarim,
Pode ser consolo, se escuta um lamento...
Tudo tem seu tempo, disso não se escapa,
Também tem o modo, certeza que trago;
O discernimento diz onde cabe um tapa,
E a mesma seta, onde convém um afago...
Às vezes de bens alheios a gente se apossa,
Como um direito, só porque, se lhes preza;
Cá estou denunciando a psique que, acossa
Sem saber se não é esse corpo que lhe pesa...