Valsa do Tempo.
Sentes rubor à minha presença, erma,
São imãs que resistidos se atraem
E a mordaz lei da física assaz contraria
Mesmo fingindo indiferença pungente
Perdidos iguais na monotonia enferma
Iguais e sóis nos encontraremos, um dia.
Nossas almas, duas metades do querer,
No teatro senil da vida... Personagens
Seguem atônitas perdidas no tempo
A sina do Amor, da idolatria, do se ter,
Dois passageiros um mesmo destino
No coche lilás dos pensamentos!
Quisera eu e você, ao sonido da valsa,
Esta estranha valsa, a vida! Quimera...
D’Uma breve dança o prazer n’um momento
Enleados tais quais em nossos sonhos
Acendida a tosca esperança, oh querida!
Em reencontro nas brechas dos tempos...
Nunca morreram as juras, e sentimentos.
Mesmo frívolas em nossos corpos doentes
Ainda duram no lapso atual, fendidas...
Vindo a ser nosso bem, nosso mal desta lida,
Se vivas aflições fumegam, queimam...
No tempo é cinza latente, brasa viva.
Quantos túmulos ainda haverá de separar?
Na eternidade nossas almas sem descanso...
Quantas vezes do pó, de nos erguer havemos?
A retomar os passos, antes da partida,
Reeditar nossa história deste balé em branco
Repintando destinos no quadro negro da vida.
https://youtu.be/Ytxj3JFcQZE