Soneto à fé
Enquanto deus jaz no ímpeto ventre dos céus
E nós apenas nascemos para de vida, morrer
Há quem morra para o ser póstumo viver
Na terra do santo que nos faz de réus.
Condenado por um crime não cometido, reluto
Enquanto sofrem por um deus já há muito morto
Que de tamanha Graça justifica o mártir d'outro
Mas que do abismo não salvará o próprio fruto.
Acredito eu deus: cada árvore que balança ao vento
A criança que descansa em meu peito seus suspiro lento
O rosto de pessoas que a mim se tornarão lembrança.
Mas antes um deus morto, a se crer em um que frente a dor
Esconde-se no leito do céu distante, longe da súplica e do amor
de olhos que, cansados, rogam a uma falsa esperança.