FLOR DE CACTO

Quisera romper com o silêncio,
Despejar tudo o que penso,
Na verdade, soltar os brados,
Há tempos, preso nas cordas vocais,
Tirar os destroços do cotidiano,
Ser um minuano projetado,
Para além dos horizontes parciais.
Quisera sair desse quadro,
Emoldurado pelo medo-vida-humano,
Pelo pode não pode, da sociedade,
Apimentar com a loucura,
A minha comportada realidade.
Quisera ter de volta a ternura,
A sensibilidade de eu menino,
Que parafraseava o cantor Hermes Aquino,
“A lua cheia convida para um longo beijo".
Quisera ter a ousadia da  flor de cactus,
Se agarrar, aproveitar o ensejo,
E resplandecer em meio à aridez,
Sem pranto, sem entanto, sem talvez.
Mas, o entanto, se incorpora à fragilidade,
Lança cinza sobre as brasas,
E eu me sinto pequeno demais,
Para mudar o status,
Para romper, reabrir o sorriso,
Sair de casa, criar asas,
Movimentar, inventar o meu paraíso.
...Inexoravelmente, eu me responsabilizo.