O espelho do passado
Pousou os olhos como de costume
E entrou pedindo licença
Embaraçou-se com as palavras que deixaram de existir no primeiro abraço.
E com a boca farta, abriu os labios num sorriso intacto.
Movimentou-se com medo do desejo.
E por tal efeito procurou a distância que impôs o tempo.
Mudou a vida, viveu o que queria, amou e foi amada.
Foi corrente e acorrentada.
Teve a liberdade privada, mas foi feliz no que quis.
Mas estava ali agora, diante de um tempo que pareceu ser intenso demais, vivo demais.
Entre as palavras haviam pausas pra que fosse possível recordar.
Talvez para lembrar que é impossível esquecer.
E por um breve momento
Deixou- se levar, mas assim como embarcou na doçura do que é lembrança, voltou.
E num lapso de sanidade voltou para a realidade.
O jogo é intenso demais
Íntimo demais, confuso demais.
Partiu como se não fosse voltar.
Voltou como se nunca quisesse ter partido.
Linda, provoca, e torna tudo inquieto.
E na minha euforia constante
Disfarço o semblante,
Tentando evitar o impossível.
Desejo, não nego.
Não sou forte o suficiente pra negar. E não vou.
Olho ao redor do quarto, e fito o ambiente perplexo
Agora, diante, do espelho do passado, sou apenas reflexo.