Últimos Versos

Talvez estes sejam meus últimos versos

Talvez a inspiração vá embora dessa vez e não volte nunca mais

Talvez esta boca se feche para sempre e não tenha mais nada para poetar

Talvez todos estes talvezes jamais me tragam resposta alguma

E eu fique para sempre flutuando por aí

Como uma alma penada que se perdeu no caminho para o Além

Talvez nunca ninguém me abrace tão apertado quanto você

Talvez nunca ninguém me beije com tanta ânsia como você

Talvez eu nunca passe a língua sobre outros lábios

Para lamber o sarcasmo que escorria pelas beiradas

Talvez essas memórias me afoguem em nostalgia

Ou, talvez, o futuro não esteja tão longe assim

Quem sabe esteja logo ali

Virando à direita na primeira esquina sem você

Talvez eu tenha medo das certezas porque tendem a ser irreversíveis

Talvez pudesse lidar com elas se caminhassem na mesma direção dos meus desejos

Talvez a neutralidade seja entediante e cíclica e só quem sabe o que quer realmente chegue em algum lugar

Mas, ainda assim, tenho medo de apostar na certeza errada e nunca mais poder voltar

Talvez eu escreva outro verso sobre você

Sobre como o amo e o odeio

Como lhe quero bem e mal e lhe sou indiferente

Tudo ao mesmo tempo

Ou talvez eu só vire para o lado e vá dormir

E tire da cabeça todos esses pensamentos confusos

Não sei, não sei, o mundo é vasto e tem tantos talvezes pra tão poucas certezas

Que parece dolorosamente definitivo escrever sobre qualquer coisa

Talvez isso não mude nada, ou talvez mude tudo

Tantas responsabilidades no definitivo, tantos medos num coração incerto

Talvez eu acorde melhor amanhã

Ou talvez tudo isso já tenha acabado quando eu abrir os olhos

Se isso acontecer, estes com certeza serão

Meus últimos versos