Nos braços de Orfeu

Riu das tristezas recorrentes, tempestades presentes,

E viu as ilusões corroendo os sonhos, belos pingentes;

Sorriu pelo efeito de papel velho embalando pão quente,

E permitiu, do olhar rolar uma lágrima, uma somente...

Que na mão caiu, e assim aguou o verbo que ninguém viu,

Do verbo nasceu o verso, que rimou dor com amor e partiu;

Mas uma sementinha ficou, e na época certa brotou, floriu,

Dos galhos saíram ramos e adornaram o céu no mês de abril.

Justamente naquele ano, que o tempo veio lhe cobrar o aluguel,

Do coração mais puro, que jurou que um dia lhe levaria pro céu,

E em suspiros incontidos, e sussurros tímidos, escritos no papel,

Adormeceu nos braços de Orfeu, escondendo a face atrás do véu.