REFLETINDO EM MINHAS RECORDAÇÕES

Sempre adorei a roda gigante, me fascinava subir e descer, como a vista era bela lá de cima, e de baixo tudo era tão mais real.

Sempre gostei do novo, de desafios, mas a maioria tinha medo.

Não que eu seja um super herói e não conheça esse sentimento, mas por diversas vezes eu menti dizendo não ter medo, queria parecer invencível, ser a força dos que se sentiam inseguros.

Quantas vezes no escuro eu estava toda amedrontada, mas dava a mão para quem estava ao meu lado e dizia para não temer, afinal monstros não existiam.

Dos papeis que já representei no teatro chamado vida, tenho saudosas lembranças das vezes que fui um anjo, a força, esperança, as portas que mostravam outras possibilidades, a mão que ajudava, a mestre, amiga, e a solução.

Para ele, já fui a sombra em um dia quente, e o cobertor das noites geladas.

Certamente demonstrei mais força do que de fato existia em mim, e assim me sentia bem, a sensação única de ser intocável pelo bem e o mal.

O que eu tinha a meu favor? A juventude com toda sua força.

A coluna de minha vida era eu mesma, sempre soube que esperar nos outros era uma tarefa arriscada, sujeito a decepções, então aprendi a me sustentar apenas com minhas pernas. Talvez demorasse mais para chegar a meu destino, mas não estava com pressa.

Ocorre que cada esquina nos apresenta uma distração, e às vezes os mais focados perdem o alvo mesmo que por instantes e se atrasam.

Nem tudo se pode fazer sozinho, e em alguns momentos era necessário confiar em quem dizia estar indo na mesma direção.

Confesso, preferia dizer que não tinha medo do escuro, a me sentir vulnerável a possíveis decepções.

Construí meu reino onde eu era rei, rainha, súdito, alto, baixo, norte e sul.

Sem saber, dei a mão para o inimigo que sem hesitar não roubou meu reino, entretanto me fez acreditar em sua pessoa, que entreguei tudo o que tinha, sem saber que não teria mais volta.

Um dia acordei e ao olhar no espelho me perguntei quem era eu. Sem reino, não era mais rei ou rainha, me senti súdito sem esperança, representava apenas o baixo, apenas o sul.

Sozinha, e com medo do escuro.

De repente tudo que parecia ser fácil começou aparentar uma estrada cruel, onde em cada passo dado, um espinho feria minha carne.

Em minha volta procurava quem poderia ser meu anjo, minha força, esperança, as portas que mostrariam outras possibilidades, a mão que ajudaria, o mestre, amigo, e a solução.

Tornei-me mais fragilizada do que aqueles que já havia ajudado, quem era eu?

Com o passar do tempo aprendemos que muitas coisas pelas quais lutamos na juventude, na realidade não eram tão importantes, algumas tolices são deixadas para trás. Eu não precisava de um reino onde eu fosse tudo em mim mesma. Cheguei a um ponto em que ter um pouco de paz já bastaria para alcançar minha dignidade.

Eu que já voei tão alto, tendo dificuldades para caminhar...

Quem sabe a vida não seja realmente a representação de uma roda gigante, cheia de altos e baixos. Quando encontrarei minha ascensão novamente?

Estou sentada aqui no chão do quarto, sem nenhum móvel por perto, apenas eu preenchendo o vazio.

Os sentimentos são como taças, e facilmente podem ser quebrados, e os meus um a um foram transformados em cacos; o orgulho, a esperança, a felicidade, a expectativa, a dignidade, todos em pedaços, misturados, e eu sem saber se poderei restaurá-los.

A melodia que era um conjunto de acordes festivos, pouco a pouco se transformou em uma marcha fúnebre de sonhos moribundos.

Sinto-me despida. Choro na escuridão de meus vazios. Quem vai ser minha luz, quem devolverá meus sonhos?

Desci tanto nessa roda gigante que hoje não observo o mundo sentado nela, com a sensação de voar para mais perto das nuvens, vejo-a girar aqui do chão, parada, nem pra lá nem pra cá, apenas presa no solo, travada, imóvel.

Aceito a minha insegurança e peço ajuda, preciso sentar nem que seja mais uma vez nesta roda gigante, e recordar como era possível poder voar sem asas.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 10/09/2015
Código do texto: T5377801
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