"O Malandro"
"...Nunca fui poeta!
Poeta são os outros, que escrevem corretos versos por retas linhas.
Sou apenas um operário das palavras, de fingidos versos nas linhas tortas.
Inveterado boêmio com passos de veludo.
Que vê a lua e não a noite.
Que recolhe-se ao nascer do sol e a noite permeia o sono das bem casadas.
Na verdade um eterno aprendiz, um bom vadio!
Que aprende com os "poetas" como não ser "poeta".
Que enverga mais não quebra por ser macio nas palavras e profundo no penetrar.
Que se esconde no mais recatado pensamento das falsas donzelas e compreende o fingido gozo das damas da noite.
Que conhece o olor e o sabor das flores que se orvalham na madrugada.
Que percebe na tremula carne o cio e tem o prazer como vício.
Conhece na ponta da língua um bom vinho e intermináveis gozos.
Sem paradeiro ou vida correta, assim me defino.
Ah! Como são tolos os "poetas"...
("O Malandro", by Carlos Ventura)