Nada a dever
Nada a dever
I
A melhor fase da vida é quando ela acontece;
é quando os sonhos já não são tão importantes
quanto as realizações.
Não me arrependo do ontem que vivi,
dos riscos, dos cortes, das provocações,
das desobediências pra ser quem eu sou;
das pedras atiradas aos dias que morri.
Não criei zinabre por faltas ou omissão...
Hoje tenho a ar,
respondo em liberdade.
II
E ainda devo, mas é a nada dever
e/ou muitas vezes ceder;
e/ou noutras me objetar,
dar ouvidos ao coração
e embargos dar à razão;
e devo não maquiar a vida
para que a minha mente não se torne enferma,
pois co'a alma sem saúde
mata-me, aos poucos, o físico
minando a minha consciência...
III
Ao voo indômito com tal insanidade,
é paradoxal essa rebeldia,
que se converte em razão
— e a esta é que não se castra —,
conduz-me por caminhos estreitos;
desfaz n'alma tod'os nós...
e aos pousos com sensatez
me trazem eficazes respostas
com a construção de verdades
e mesmo que hajam os trancos,
há o contentamento de ser.
E se há o regozijo em ser
é tudo que a mim importa;
e humilde a polir o meu espelho
e a ser obediente à minha rebeldia,
ter minhas vontades como guia,
devendo nada dever.