Ônibus
Não entendo nada de poesias
Mas tentarei escrever uma
Como forma de terapia
Sem pretensão alguma
Todos os dias ia de ônibus para a cidade
Moro no campo, e é tarefa preguiçosa para mim.
Olhava para moças e senhoras de meia idade
Disfarçadas flores novas e velhas num jardim
Olhava também para os rapazes e os senhores
Que perante a vida mais pareciam tratores
A passar pela terra esmagando suas dores.
É impressionante ver naquelas faces
A expressão fria, distante, sonolenta
Os olhares arrastados pelas árvores
Ou apenas olhando e não vendo nada
Com um fone de ouvido a dispersar
A agonia de mais um dia ter que enfrentar.
Nos meus pés o calor reinava
Nunca conseguia voltar para casa
Sentado num daqueles acentos
Que mais acentuavam a cobiça
Dos que em pé se sentiam
Como enlatados de sardinha.
Universitários em pé ou sentados
Idosos sentados? Quase todos
Alguns eram ignorados pelos tolos
Que eram lastimados pelos passageiros
Haviam também mulheres com crianças ao peito
Que justamente nas horas de pico insistiam em entrar
Sabendo que alguém lhes concederia lugar para sentar
Embora bem atrás estivesse vindo um ônibus vazio.
É impressionante o contraste que eu via
Ao constatar a diferença entre um ônibus lotado
E a escuridão sem vida da rua na qual eu descia
Toda vez que aquelas portas dianteiras se abriam...