Ônibus

Não entendo nada de poesias

Mas tentarei escrever uma

Como forma de terapia

Sem pretensão alguma

Todos os dias ia de ônibus para a cidade

Moro no campo, e é tarefa preguiçosa para mim.

Olhava para moças e senhoras de meia idade

Disfarçadas flores novas e velhas num jardim

Olhava também para os rapazes e os senhores

Que perante a vida mais pareciam tratores

A passar pela terra esmagando suas dores.

É impressionante ver naquelas faces

A expressão fria, distante, sonolenta

Os olhares arrastados pelas árvores

Ou apenas olhando e não vendo nada

Com um fone de ouvido a dispersar

A agonia de mais um dia ter que enfrentar.

Nos meus pés o calor reinava

Nunca conseguia voltar para casa

Sentado num daqueles acentos

Que mais acentuavam a cobiça

Dos que em pé se sentiam

Como enlatados de sardinha.

Universitários em pé ou sentados

Idosos sentados? Quase todos

Alguns eram ignorados pelos tolos

Que eram lastimados pelos passageiros

Haviam também mulheres com crianças ao peito

Que justamente nas horas de pico insistiam em entrar

Sabendo que alguém lhes concederia lugar para sentar

Embora bem atrás estivesse vindo um ônibus vazio.

É impressionante o contraste que eu via

Ao constatar a diferença entre um ônibus lotado

E a escuridão sem vida da rua na qual eu descia

Toda vez que aquelas portas dianteiras se abriam...

ícaro Clarêncio
Enviado por ícaro Clarêncio em 20/08/2015
Código do texto: T5353460
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