Desventuras

Finjamos que a dor já não dói

Deixemo-nos cair, em queda livre, no abismo da rotina

E na mediocridade do para todo o sempre

Porque a vida é boa para os que não sentem

Ou não fazem sentido

Não para os poetas

Estes sobrevivem no paradoxo da própria existência

E reviram nas entranhas do vivível

Algum absurdo que os fascine

Ou horror que os assombre

Mas é a verdade, a ferina verdade

Que os inquieta

Que os tragicica

Pois o pranto do poeta não é apenas por seus próprios flagelos

Abarca, com suas lágrimas de tinta, todas as dores do mundo