mas era noite, não açoite, 9º movimento

já era dia

e eu não sabia

em qual parte do romance

via nossa história

e havia fechado o livro

seria:

"Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado"?

ou "no meio dele havia uma cama, parecia o palco de um teatro"?

ou: "não estavam ligados por nada, a não ser por uma noite imprudente"?

pensei em correr logo ao começo

folheando os endereços por onde passamos

vi que ali: "we never lost control"

os anos não aumentaram

nem diminuíram

talvez por isso você escreveu: "os anos nada me contaram"

mas de que valem os anos

um livro

uma vida em branco

se apagamos qualquer palavra

que deseja morar nesse quadro

se um pequeno salto pode provocar o medo

de que um título nasça

resumindo todo o espírito dos capítulos?

os anos nada contam

se o contador da história inexiste

como uma lareira

em meio a 10 graus abaixo de 0

acesa para ninguém?

é só lembrar dos vestígios das pontes

começamos a pisar

as poesias e seus degraus

mas aonde queríamos ir?

mergulhar no lago abaixo

e sentir a sua profundidade?

arriscar seguir na ponta dos dedos

a ponte

ainda que parecesse frágil

a ponto e desmoronar a qualquer momento?

o que estava adiante

obscurecido pelas cerrações de nossas ilusões?