AQUARELAS DO PENSAMENTO INSONE

O aedo flagra-se contemplando a si mesmo

Em frente ao espelho do oceano ermo.

O aedo acorda vestindo o Fernandiânico

Tegumento de Alberto Caeiro

Ou trajando a derme de Macondo,

Que como a Phoenix ---banhada em vermelho-fogo ---

Foi condenada a viver sempiternamente

Morrendo, renascendo

E se reinventando como num ciclo vicioso.

O aedo --- ao fitar

A humanidade emanar

Adrômedas de invectivas

E minuanos de hipotermia á vida ---

Decide mergulhar (sem brumas ou receios)

No fluxo da angústia bruna,

Que subjugara, de modo

Sistemático e sistêmico,

Os pensamentos

Do apanhador no campo de centeio!

O aedo

Esfrega

Compulsivamente

As vistas;

E não acredita, todavia,

No que mira:

Uma opima hoste suína,

Que enverga garrida

(Com vanglória cabotina)

Um mar de rubicundas camisas

Onde bubuiam ladinas

Gigantescas e vividas

Solitárias Estrelas Albinas,

Virando híspidas harpias,

Versadas n’arte da torpe alquimia:

Pois transformam o Ouro Preto Altruísta

Em reservas privativas

De bilhões de verdinhas,

Muito bem guardadas

Em suas garras de perfídia:

Ferinas, fétidas, famintas!

O aedo, finalmente,

Desprovido de pejo

E siso,

Quer saber --- a bem

Da verdade, também de modo

Conciso ---

Para além da efusiva

Bazófia frívola

De Antonieta (Maria tal exige a rima,

Qual só se vê no âmbito das entrelinhas;

E não em casca de ferida --- como a sonoridade

Dos correntes versos abaliza ---),

Que deu vazão ao medo, sem dieta restritiva,

Ao se deparar sob a mira empedernida

DA GUILHOTINA (A JACOBINA,

ROBESPIERREMENTE TERRÍFICA!) ---

Para além da Vênus de Milo

E de sua inebriante perfumaria ---

Se ele é o Monet,

O Picasso,

O Portinari,

O Iberê Camargo...

O vate,

O arauto,

O artífice

E o Cosac Naif da Língua;

Ou, então,

Uma embarcação

Apolínea ---

Salpicada de furos

Nos cascos e completamente á deriva:

Um mero ourives da lira...

Um recalque, um sofisma em carpintaria...

Um arremedo de poesia

Recendendo á ambrosia...!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

JESSÉ BARBOSA
Enviado por JESSÉ BARBOSA em 08/07/2015
Código do texto: T5303934
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